O jornal O Estado de S. Paulo lançou neste domingo seu novo projeto gráfico, prometido junto a mudanças editoriais, como anunciado logo após a Folha de S. Paulo ter divulgado também suas alterações para o mês de maio. O estadão.com.br também foi reformulado e é mantido em perfeita sintonia com o jornal impresso da família Mesquita.
Sob o slogan “Jornalismo Renovado”, o Estado apresentou um layout com novo cabeçalho, uma ágil barra de destaque, uma nova tipografia exclusiva, colunas mais arejadas para uma leitura mais agradável e passou a valorizar as fotos e seus articulistas. Esses últimos localizados no rodapé da primeira página, junto ao tradicional Notas & Informações e à previsão do Tempo.
Entretanto, ao dar destaque à informação, cozinhada pela mestre-cuca e articulista Dora Kramer, de que “Serra vai se lançar candidato defendendo ‘Estado ativo’”, como manchete da edição de domingo do jornal que saiu com tiragem de 502.673 exemplares, pecou.
Pecou por destacar uma informação que vai à contra-mão das posições tucanas, conhecidas pelo Estado zero e privatizações a valer. Pecou por não trazer novidades em seu interior, se utilizando apenas das palavras ditas por José Serra assim que assumiu o governo de São Paulo, há três anos. Em suma, pecou ao dar relevância a uma notícia que apenas tem o papel de defender o Estado ativo, e tentar limpar a barra dos maníacos da privataria.
Não defendo a estatização ou a privatização como pilares de uma sociedade bem estruturada. Não sei se voto em Serra ou em Dilma, ou quiçá em Marina. Defendo sempre a confluência. Diferentes maneiras de pensar, agir e governar devem ser sempre respeitadas em um Estado de Direito. Sortudo aquele que consegue do caos das diferentes opiniões encontrar o equilíbrio.
Essa confluência pode ser observada em vários aspectos e enxergo com bons olhos a convergência do “Jornalismo Renovado” prometido pelo Estado, mesmo mantendo sua, digamos, parcialidade ativa, já que não existe imparcialidade plena e nunca existirá. Nesse sentido, o Homem peca.
Mas acerta o Estado ao colocar em profunda sintonia impresso e digital na confluência das informações. O Homem continuará errando. Nem vale a pena gastar a prosa debatendo esses fatores, por isso peço desculpas pela ladainha política e vamos ao que interessa.
“As mídias impressa e digital são complementares. E quem mais se beneficia são os leitores, que dispõe de conteúdos cada vez mais qualificados, a toda hora”. O lugar-comum, impresso na capa do caderno especial de oito páginas montado pelos editores de O Estado de S. Paulo para apresentar as mudanças no Grupo, ainda é válido. Há quem duvide que os jornais durem ainda muito tempo. Há quem suspire com os e-readers e rasguem junto com o papel qualquer romantismo que ainda possa existir referente ao que pode ser impresso.
Ambas as mídias têm espaço nessa história. O peso de um jornal ainda é maior que a resolução de um site de notícias em um laptop ou num iPad. Ver uma notícia estampada e exposta em uma banca de jornais e revistas é muito mais precioso que ver um fato postado na blogosfera.
Claro também que as novidades digitais do Mundo 2.0 facilitaram a profusão de informações e são responsáveis pela democratização da opinião, e isso ninguém tasca.
Não podemos garantir quanto tempo mais o papel virá a durar, nem se esses novos meios serão eternos. Sem essas garantias, resta-nos aproveitar essa convergência.
Ler em página de jornal alguma notícia e saber por ela que existe um link na rede mundial de computadores que ilustra com ainda mais clareza os dados apresentados é fantástico. Tudo bem, daqui a pouco teremos papel transformado em tela touchscreen a dar com pau para facilitar essa mistura. Mas se ainda pudermos abrir o jornal com as duas mãos e sofrermos para mantê-lo aberto e tentar lê-lo no ônibus, que aproveitemos!
Poder pegar no papel, sem dúvida, aproxima o leitor da notícia, mas outro caminho que leva o leitor a estar cada vez mais perto dos fatos é a possibilidade de os novos portais interagirem com as redes sociais. Embora queiram acabar com o conceito de portal, os novos sites não são nada mais que isso. São portais que se abrem a outras fontes, deixando de confinar o leitor àquele endereço somente, fazendo-o interagir de outras maneiras. O Twitter é o grande exemplo. No próprio estadão.com.br ele é responsável pela segunda maior fonte de visitas ao endereço, perdendo apenas para o Google.
O Estado ativou a sofisticação que cabe aos jornais impressos aliados aos meios digitais. Um jornal mais analítico dá elegância àquilo que o consumidor de notícias já viu no dia anterior na tela dos computadores. Por isso, essa confluência é tão necessária e está em voga no mundo. Os jornais e a internet ganham, mas o maior vencedor é o leitor. Não só pelo simples fato de poder saber com mais agilidade e ao mesmo tempo obter análises profundas, mas o leitor se torna parte dos eventos ao emitir opinião ou ajudar na construção de uma história, fazendo o papel da já velha conhecida testemunha ocular.
O jornalismo precisa dessa renovação, já há muito em andamento. O que foi feito pelo Estadão neste domingo é apenas um pano de fundo do que vem sendo feito na comunicação atual.
O mundo mudou. Por sorte, os meios de informação também ativaram essa evolução.